Educação e transformação social:
perspectivas e desafios para o pacto educativo global no Brasil

O PACTO EDUCATIVO GLOBAL (Global Compact on Education), proposto pelo Papa Francisco em 2020, trouxe horizontes, olhares, desafios e, ao mesmo tempo, um apelo para o mundo. Ao ressaltar o papel da educação como um ato de esperança, Francisco propõe sete compromissos por um mundo diferente, na promoção do diálogo entre culturas, da paz e da ecologia integral.
Os desafios do Pacto se resume em:
• Ter coragem de colocar no centro a pessoa.
• Ter coragem de investir as melhores energias com criatividade e responsabilidade.
• Ter coragem de formar pessoas disponíveis para se colocarem a serviço da comunidade.
Clique aqui e conheça mais detalhes do PACTO EDUCATIVO GLOBAL

“Queremos empenhar-nos corajosamente a dar vida a um projeto educativo, investindo as nossas melhores energias e iniciando também processos criativos e transformadores em colaboração com a sociedade civil.” Papa Francisco

Provincial da Província La Salle Brasil-Chile e Presidente da Rede La Salle, uma das congregações Associadas do Grupo UBEC, Irmão Olavo José Dalvit, considera o PACTO EDUCATIVO GLOBAL uma resposta aos desafios enfrentados pela educação.

Nesta entrevista, o provincial fala sobre o Pacto e de como a iniciativa do papa Francisco se aplica na atuação dos educadores e educadoras do Grupo UBEC. Confira:

No convite à reconstrução do PACTO EDUCATIVO GLOBAL, o papa Francisco lembra o provérbio africano que diz “para educar uma criança, é preciso uma aldeia inteira”. Na sua opinião, como é que a gente pode construir aldeias educativas dentro desse contexto da sociedade brasileira?

Ir. Olavo – Como construir aldeias? Essa não é uma pergunta fácil. Tenho refletido nos últimos dias e feito visitas para as nossas comunidades, sejam religiosas ou educativas. Nas educativas, conversamos com as nossas equipes diretivas nas Obras Lassalistas, e penso que o que a gente percebe na educação hoje no Brasil, numa Rede ou na outra, é igual e acredito que o mesmo acontece nas obras da UBEC e na educação brasileira como um todo, nós temos um sentido de cultura educacional muito frágil, sabe. No Brasil, por vezes, a gente reflete e olhando a iniciativa privada a gente vê que a educação virou um mercado. Estamos assim também, como UBEC a gente tem que se adequar a isso, se não a gente não sobrevive nessa ou talvez essa também seja uma aldeia educativa, né?

 

Como o pacto educativo pode ser um vetor de transformação social na educação brasileira? 

Ir. Olavo – Como o país pode dar passos e que iniciativas podem ser criadas para construir uma aldeia educativa com outra visão para essa realidade? O mais normal seria pensar que teria que ter uma decisão do governo. Vamos imaginar um governo que tome uma decisão e que faça algo que venha a transformar essa realidade, mas eu penso que o principal que nós podemos fazer, dentro do que está nas nossas condições, é realmente aquilo que vai aparecer até nas próprias outras questões que é formar alianças. As instituições educativas ligadas à Igreja no Brasil não estão acostumadas a fazer alianças. Se começou a ter aliança dentro das Congregações e de algumas regiões, mas nós não estamos acostumados a fazer alianças, parece que não é da nossa cultura. A gente faz o melhor, a gente vai olhar as Congregações e a Igreja e todo mundo vai estar tentando fazer o melhor para tentar responder a sua missão e o seu compromisso.

“A educação é, sobretudo, uma questão de amor e responsabilidade que se transmite, ao longo do tempo, de geração em geração. Por conseguinte, a educação apresenta-se como o antídoto natural à cultura individualista.” Papa Francisco

Podemos esperar dos governos? Sim, eu acho que pode ajudar muito. Acho que a gente pode se envolver na política, na política no bom sentido, para ajudar a criar algumas questões novas que venham tirar um pouco esse viés mercantil da educação para que ela possa olhar e dar atenção aquilo que o papa Francisco tanto insiste, né? Vamos olhar para aquele que tem mais necessidade, se a gente olhar os países e alguns Estados no Brasil, que já estão fazendo alguns esforços, podemos assim investir mais na educação. O crescimento é um crescimento sustentável quando se respeita as pessoas e quando a economia está a serviço das pessoas. Aí a Casa Comum é respeitada e a gente vê que é onde tem também uma decisão política, então nós podemos. Eu creio que as Igrejas, a CNBB e as dioceses, as congregações, as associações que representam eles podem estar bem envolvidos nisso, se houvesse uma decisão de olhar educação, realmente como uma prioridade.

Enquanto instituição educadora, como a UBEC, a partir da sua experiência intercongregacional e interinstitucional, pode se inspirar no magistério do papa Francisco pensando não só na perspectiva do Pacto Educativo, mas também olhando para o PACTO EDUCATIVO GLOBAL, como é que ele pode fortalecer a partir daquilo que Francisco tem nos inspirado, que é uma educação mais profética mais inovadora, inclusiva e que seja condizente com as questões sociais do nosso tempo? 

Ir. Olavo – Eu acho que essa visão da UBEC, como uma instituição intercongregacional, ela é bem interessante. É um caminho que nós precisamos avançar. Nós, Lassalistas, e creio que todas as Associadas precisamos entender a UBEC como esse ponto de encontro dessas e desses carismas e filosofias. Se nós nos entendêssemos assim, poderíamos ter na UBEC também uma força para construir até um, o que seria a resposta: como pode se inspirar? Eu acho que é construindo um projeto pedagógico que considera esses elementos. Eu vejo isso olhando nas experiências próprias e de outras instituições a dificuldade que é nesse tempo ainda mais de ter um projeto pedagógico profético, inovador e condizente com essas questões sociais desse tempo. A tendência é os projetos pedagógicos serem competitivos para essa realidade que vive o mundo e que foi implantado aqui de Educação no nosso Brasil. Então eu acho que aqui a inspiração que pode vir do Pacto é de nós termos coragem e a ousadia de, sem perder competitividade que é um elemento que não podemos nos distanciar, construir esse projeto. Um projeto que talvez se essas instituições entenderem que podem construir juntas também possam envolver outras e a própria Igreja. Então eu vejo isso porque ações isoladas são importantes e vão acontecer, mas se nós não tivermos um projeto, vamos dizer assim que a forma como nós estamos dando aula e a forma como nós estamos implantando e organizando nossas obras educativas, senão não interferir nisso. Se o professor e o educador que está lá, ele não sentir e não perceber isso. E a igreja tem dado muitos sinais de por onde e que coisas defender. Então acho que se nós pudéssemos como UBEC ir construindo isso e colocar no nosso horizonte de UBEC também que ela pode ser esse ponto de congruência dessas congregações que estão envolvidas e talvez até convidando outras para junto nesse projeto, qualquer instituição que congregue as instituições, as congregações e as Igrejas que estão envolvidas com educação.

Estamos falando do PACTO EDUCATIVO GLOBAL, na sua opinião, o que é mais bonito e desafiador nessa proposta que o Papa Francisco convoca a Igreja, a sociedade e a humanidade, mas também o que é mais bonito e mais desafiador à luz da experiência Lassalista. O que a educação Lassalista pode trazer e conectar com essa experiência do Pacto? 

Ir. Olavo – Primeiro, acho que, para nós cristãos católicos, ver o Papa tomar uma iniciativa, ela não é isolada e já foi trabalhada antes na esteira dele como bispo e arcebispo já tinha essa iniciativa, experiência e envolvimento com instituições para isso, mas acho que é bonito e é animador ver que o Papa está a frente disso e que ele tem um projeto assim é que ele, primeiro pela própria comissão e carisma dele, de conseguir congregar tantas instituições que estão envolvidas e que acreditam nesse projeto. Então eu vejo isso de maneira muito bonita e eu acho que a gente pode ver isso também em tantos santos e tantos fundadores e acho que os fundadores da UBEC vamos ver que todos eles de alguma forma também tiveram que tomar a iniciativa no seu tempo. O La Salle ele teve uma iniciativa, que talvez seja uma das suas características mais marcantes e pela qual ele é mais conhecido, que é a formação dos educadores. É onde uma das suas características que a gente precisa até explorar mais na nossa instituição, mas é algo que ele fez muito. Ele se dedicou ao máximo para formar bem aqueles que estavam se dedicando para essa causa e acho que esse é um dos problemas na educação no mundo e, especialmente, para nós no Brasil. A formação aí vem junto com a formação a valorização das pessoas que se dedicam no mundo da educação. E essa valorização a gente vê em muitos lugares que não é necessariamente a questão salarial, é muito mais o reconhecimento social para aquelas pessoas e a gente sabe que isso em outras culturas é muito forte, como é o caso do Japão e de outros lugares. Então me parece que essa iniciativa ela tem de bonito isso e a gente vai ver tantas iniciativas que já estão acontecendo, como é o caso da CLAR, que é dos religiosos da América Latina, que envolve uma educação bilíngue para os povos indígenas. Uma iniciativa maravilhosa que está se incentivando muito aqui no Brasil, na Amazônia. Então são iniciativas assim que eu acho que o pontífice com o seu Pacto ele está ajudando e isso é bonito. Ele está ajudando que muitos se inspirem nele e se inspirem nessa proposta. E é desafiador, na minha opinião, levar adiante isso. O desafio é a gente ter essa ousadia de realmente acreditar e dar continuidade a esse projeto, que é bonito, mas é desafiante.

Como representante de uma das Associadas do Grupo UBEC, qual a mensagem que podemos deixar para as comunidades educativas do Grupo? 

Ir. Olavo – Eu diria que a exemplo do Pacto, o que nós somos como UBEC, que é um pacto pela educação, o que nós fazemos a razão de nós existirmos é a partir de um pacto por uma educação melhor. Então, nós precisamos acreditar nisso e precisamos como instituições, seja na educação básica ou superior, nós precisamos acreditar que a nossa a nossa existência como UBEC ela é uma benção para a Igreja, as pessoas e se nós não aproveitarmos essa oportunidade, nós estamos perdendo um time nessa história. Então o que a gente acredita é que a nossa missão é uma missão de Deus. É uma missão que nos foi confiada para ajudar a transformar a sociedade, igual a proposta que o Papa faz com o Pacto, é isso que nós queremos com a UBEC também e por isso que eu acho que desde os primeiros que se uniram para instituir essa organização, eles estavam pensando nisso, eles estavam não pensando na sua instituição, mas estavam pensando em querer que mais gente tivesse acesso e é isso que nós temos que olhar também como UBEC também. De irmos para as regiões, onde está sendo mais necessária a educação.